Nesta seção, encontram-se gravações sobre política garimpadas depois da publicação do livro “Quem foi que inventou o Brasil?”. Se você conhece alguma canção que também deveria fazer parte da nossa seleção, não deixe de enviá-la.
1.“Greve e o soldado” (1917).
Letra: Jorge Domingues (?). Música: Tenente Lorena (Benedicto Assis Lorena). Intérpretes:
Márcia Tauil (voz), Tico de Moraes (voz) e Farlley Derze (piano).
Partitura com letra (“Sem tirar nem por”) disponível no Instituto Moreira Salles.
Em dezembro de 1917, estreou no Teatro Boa Vista, na capital paulista, a revista do ano “Sem tirar nem por”, com texto de Jorge Domingues e música do tenente Benedicto de Assis Lorena, regente da Banda da Força Pública de São Paulo. A revista, com três atos, cinco quadros e três apoteoses, encenada pela Companhia Arruda, agradou muito ao público, com 26 apresentações, número expressivo para o teatro musicado paulistano na época.
A canção de “Sem tirar nem por” que fez mais sucesso foi o tanguinho
“Greve e o soldado”. Trata-se da única música sobre a greve geral de 1917 em São Paulo, composta e cantada no calor dos acontecimentos, produzida pela indústria cultural da época.
A paralização reuniu mais de 30 mil operários nos meses de junho e julho de 1917 em São Paulo, em sua maioria emigrantes, especialmente italianos e espanhóis. O movimento, que teve início nas grandes indústrias têxteis, logo estendeu-se para fábricas de móveis, bebidas, alimentos e estamparias, atingindo cerca de 35 empresas. Também pararam de trabalhar os condutores de bondes e os funcionários da Light.
Num primeiro momento, os patrões recusaram-se a negociar, demitindo muitos grevistas. Mas os trabalhadores não se intimidaram. Ao contrário, saíram às ruas para defender seus direitos. Foram reprimidos pela polícia com grande violência. Vários operários foram mortos a tiros. Em resposta, o movimento convocou manifestações para homenagear as vítimas, mobilizando multidões.
Estima-se que o enterro do sapateiro espanhol José Ineguez Martinez, de 21 anos, que chegara ao Brasil apenas seis meses antes de ser morto a tiros pela polícia, tenha reunido mais de 10 mil pessoas. São Paulo parou. Na época, a cidade tinha cerca de 300 mil habitantes.
A crise agravou-se de tal maneira que os representantes da grande
imprensa formaram uma comissão para intermediar as negociações entre os empresários e o Comitê de Defesa Proletária, composto pelos líderes do movimento, em sua maioria anarquistas. Depois de várias rodadas de conversas, os patrões aceitaram as principais reivindicações do movimento paredista: aumento salarial de 20%, libertação dos trabalhadores presos, não demissão dos grevistas, fim do trabalho de menores de 14 anos e proibição do trabalho feminino noturno.A canção “Greve e o soldado” é uma preciosidade. Embora sua melodia –sem os versos – tenha sido gravada em 1918 pela Grupo Vienense (Odeon R121454), o registro fonográfico encontra-se perdido. Felizmente a Casa Bevilacqua imprimiu no mesmo ano a partitura do tanguinho, mais tarde garimpada pelo jornalista José Ramos Tinhorão. Atualmente, ela está disponível no Instituto Moreira Salles.
Registre-se também que uma das apoteoses da revista “Sem tirar nem por”, intitulada “De volta ao trabalho”, também teve como motivo a greve de 1917.
Infelizmente, não se conseguiu localizar nem sua notação musical nem seus versos.
É bom lembrar que São Paulo chegou no teatro musicado ligeiro várias décadas depois do Rio de Janeiro. A primeira revista de teatro paulista data de 1899 e, pelo menos até meados da década de 1910, as principais peças musicadas apresentadas na capital paulista vinham do Rio ou do exterior. O tenente Lorena foi um dos principais compositores do teatro musicado ligeiro paulista entre 1917 e 1921, com nada menos de 14 revistas do ano e burletas, entre elas a popularíssima “Uma festa na freguesia do Ó”, grande sucesso de público em 1917 e 1918, com 70 apresentações.
Duas observações: a) a palavra “delambida”, que caiu em desuso em boa parte do Brasil, significa “atrevida”, “malcriada”, “presunçosa”; b) “Araçá” é o nome de um dos principais cemitérios da capital de São Paulo.
Nossos agradecimentos a Márcia Tauil, Tico de Moraes e Farlley Derze,
amigos de Brasília, pela deliciosa gravação dessa joia perdida no tempo.
(Soldado)
Veja bem o que faz,
Desordeira, delambida
(Greve)
Ande lá, me deixe em paz
Não se meta na minha vida
(Soldado)
Eu não sou de brincadeira
Veja lá, tenha juízo
(Greve)
Não venha dessa maneira,
De conselho não preciso
(Soldado)
Vá se embora, sua greve
Se não entra no pau já
(Greve)
Fique sabendo que em breve
Você vai ter no Araçá
(Soldado)
Eu não quero estrepolia,
Você quer que eu lhe dê?
(Greve)
Eu sou mulher de arrelia
Zombando estou de você
(Soldado)
Não vá dizer que sou mau
Não vá se queixar da sorte
(Greve)
Não tenho medo do pau
E tampouco da morte!
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2. Situação encrencada *moda de viola (1930)
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Autor: Cornélio Pires. Intérpretes: Cornélio Pires, acompanhado pela Caipirada Barretense. Gravadora: Columbia.
Em abril de 1930, um mês depois das eleições presidenciais disputadas por Júlio Prestes e Getúlio Vargas, a Columbia gravou “Situação encrencada”, interpretada pelo autor, Cornélio Pires, com acompanhamento da Caipirada Barretense. Mas a moda de viola foi composta e cantada bem antes do pleito. Refere-se à crise do café que se seguiu à quebra da Bolsa de Nova Iorque em outubro de 1929 e ao fim da política do café com leite. Registra as disputas entre São Paulo e Minas Gerais, – e seus respectivos governadores, Júlio Prestes e Antônio Carlos de Andrada.
Para Cornélio Pires, quem estava pagando a conta do “baruião” era o povo. Embora paulista, ele atribui a responsabilidade da crise política à oligarquia do seu estado: “O povo todo tá gritando/ A curpa é do Julio Prestes”. Deixa clara também sua preferência eleitoral: “Mas depois da inleição/ Nós podemos ser feliz/ Se entrar o Getúlio Varga/ No lugar do Washington Luis”. E completa: “Todo mundo é liberar”, numa alusão à Aliança Liberal formada por Getúlio.
A moda de viola faz ainda menção à “revorta passada”, ou seja, à Revolução de 1924 liderada em São Paulo por Isidoro Dias Lopes, derrotada pelas tropas leais ao então presidente Artur Bernardes, que se uniu à Coluna Prestes.
Tomara que chega logo
O tempo das inleição
Pra ver se assim acaba
Esse grande baruião
Julio Preste e Antônio Carlos
Muitos danos tão causando
Já tem muita gente pobre
Que até fome tá passando, ai
Que até fome tá passando
Já quebrou os fazendeiros
Assim que o governo qué
Tamos tudo sem carreira
Com essa baixa do café
Acabou o movimento
Até lá pra Noroeste
Povo todo tão gritando
Que o curpado é o Júlio Preste, ai
Que o curpado é o Júlio Preste
Quase todo fazendeiro
Andava de Chevrolet
Já tão andando a cavalo
Com a baixa do café
Aqueles grande banqueiro
Cheio da libra estrelina
Encostou o carro do lado
Por farta da gasolina, ai
Por farta da gasolina
Nessa revorta passada
Ninguém pode ter saudade
E eu se fosse democrata
Não queria Artur Bernarde
Por ele ser o curpado
Na revolução passada
Ficou como o povo fala
É que a crise tá danada, ai
É que a crise tá danada
Valeime Nossa Senhora
Tem dó desse pessoar
Se o café não suceder
O operário passa mar
Fazendêro todo troncho
Ô é farta de vontade
Colonos trabaia um meis
Recebe só pra metade, ai
Recebe só pra metade
Mas depois da inleição
Nós podemos ser feliz
Se entrar o Getúlio Varga
No lugar do Washington Luis
Por todo lado que eu ando
Os voto são todo iguar
Pelo jeito que se fala
Todo mundo é liberar, ai
Todo mundo é liberar ...
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3. “Na Serra da Mantiqueira” (1932), seresta
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Autor: Ary Kerner Veiga de Castro. Intérprete: Gastão Formenti, acompanhado pela Orquestra Victor Brasileira. Gravadora: Victor.
Esta canção foi gravada por Gastão Formenti um mês após o fim da Revolução Constitucionalista de 1932. Fez muito sucesso na época, como um canto pacifista e apartidário. Começa com uma marcha fúnebre, que logo dá lugar a uma seresta popular, retornando a marcha no final trágico. Os versos não deixam claro de que lado lutou o filho de Mãe Maria, morto em combate – se nas tropas legalistas ou nos batalhões paulistas.
Ao todo, foram quase três meses de conflito, de 9 de julho aos primeiros dias de outubro. Morreram mais brasileiros em combate em 1932 do que pracinhas na II Guerra. O número oficial é de 934 mortos, mas as estimativas são de que mais de 2 mil pessoas perderam a vida na curta guerra civil. Uma das principais frentes da guerra foi o Túnel da Mantiqueira, que separa São Paulo de Minas Gerais.
(Roberto de Azevedo)
Na Serra da Mantiqueira
Sob a fronde da mangueira
Que ela em moça viu plantar
Sentadinha no seu banco
Lá na encosta do barranco
Mãe Maria vai sonhar
Dos amores do passado
Só lhe resta um filho amado
Que lhe dá felicidade
Ele é todo o seu encanto,
Sua vida, o fruto santo
Da longínqua mocidade
E nas nuvens que correndo
Vão no céu aparecendo
Prá no ocaso descansar
Ela vê os belos dias
De venturas e alegria
Que não mais hão de voltar
Eis, porém, que veio a guerra
Abalando toda a Serra
Com o rugido do canhão
E a velhinha amargurada
Viu seu filho lá na estrada
Se sumir num batalhão
Segurando no rosário
No seu banco solitário
Mãe Maria reza agora
Pede a Deus ardentemente
Que lhe mande o filho ausente
Que já tanto se demora
E uma tarde ao sol poente
Ela escuta de repente
A voz meiga do rapaz
Que lhe diz tal como em vida
Muito breve, mãe querida
Lá no céu me encontrará
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4. “Vai, vai pra São Borja sossegar” (1945)
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Autores desconhecidos. Intérprete: Dulce Augusta Araújo de Castro. Gravação especial (2015)
De Colatina, no Espírito Santo, chega essa deliciosa marchinha, enviada por Dulce Augusta Araújo de Castro, que, gentilmente, gravou a canção guardada na memória de seu tempo de menina.
“Vai para São Borja sossegar”, título atribuído, foi cantada no Espírito Santo durante as eleições presidenciais de 1945. Fazia campanha para o Brigadeiro Eduardo Gomes e mandava Getúlio voltar para São Borja, sua cidade natal. “Aí vem o brigadeiro para dar fim à ditadura”, anunciava. E, de passagem, dava uma lambada nos queremistas, que defendiam a permanência de Vargas no poder.
O Brigadeiro foi derrotado. O general Eurico Gaspar Dutra, com o apoio de Getúlio e dos queremistas, venceu as eleições.
Não há registro de que a canção tenha sido gravada na época.
Tem, tem, tem, tem
Tem outro pro teu lugar
Vai, vai, vai, vai
Pra São Borja sossegar
Volta pra tua fazenda
Volta vai ser boiadeiro
Dê o fora do Catete
Que aí vem o brigadeiro
Água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura
Aí vem o brigadeiro
Pra dar fim à ditadura
Tu tens carne, tens açúcar
E tens casa pra morar
O pobre do operário
Mal tem onde trabalhar
Me valha Nossa Senhora
Pelo mais sagrado nome
Se tu duras mais um ano
Nós vamos morrer de fome
Queremistas são aqueles
Que não têm opinião
Que gostam de passar fome
E andar de pé no chão
5. “Volta, volta para o Brasil governar” (1950), paródia.
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Autores: desconhecido (música) e Dulce Augusta Araújo de Castro (letra). Intérprete: Dulce Augusta Araújo de Castro. Gravação especial (2015).
As eleições presidenciais de 1950 foram vencidas com folga por Getúlio Vargas, que derrotou o Brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, e o mineiro Cristiano Machado, do PSD.
Dulce Augusta Araújo de Castro, que morava em Colatina, no Espírito Santo, tinha então 16 anos. Criada numa família getulista, ela fez na época essa paródia de uma música a favor do Brigadeiro, cantada nas eleições de 1945 (ver Vai pra São Borja sossegar). E, cantando, pediu votos para Vargas em 1950.
A marchinha nunca foi gravada comercialmente. Seu título é atribuído.
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Vem, vem, vem, vem
Para o povo sossegar
Volta, volta, volta, volta
Para o Brasil governar
Deixe a sua fazenda
Deixe de ser boiadeiro
Toma conta do Catete
Pra não ser do Brigadeiro
Água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura
Vem Getúlio governar
Agora sem ditadura
Tu tens carne, tens açúcar
E tens casa pra morar
Levantou o operário
Que hoje sabe trabalhar
Me valha Nossa Senhora
Pelo mais sagrado nome
Se tu não vens agora
Nós vamos morrer de fome
Queremistas são aqueles
Que têm muita opinião
Não gostam de passar fome
Nem andar de pé no chão
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6. “”Pingo mulato”, valsa (1951)
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Autor: Pedro Raimundo. Intérpretes: Pedro Raimundo acompanhado por Pereira Filho e seu conjunto. Gravadora: Todamérica.
Pingo é o mesmo que cavalo em gauchês. “Mulato” era o nome do alazão predileto de Getúlio, nascido e criado em São Borja, quase na fronteira com a Argentina, na Fazenda Santos Reis, de propriedade de seu pai. Nas comemorações pela espetacular vitória de Vargas nas eleições presidenciais de 1950, até “Mulato” foi tema de música – uma valsa, gênero muito popular no Rio Grande do Sul.
No dialeto gaúcho, “pago” é mesmo que lugar querido. “Flete” é sinônimo de cavalo. “Pala” é um poncho leve. “Garrão” é a parte inferior traseira da pata do animal. “Pelega” é uma nota de dinheiro.
Eu conheci lá nos pagos
Um lindo flete alazão
Lindo, de linda estatura
Pala, beirando o garrão
Puro sangue brasileiro
Nascido lá no rincão
Grande amigo do seu dono
Fez até revolução
Tem uma marcha trotada
Lindo, bueno de fato
Em toda parte que chega
Tiram logo seu retrato
Não se faça pra corrida
Cavalo desse no trato
Tem arreio prateado
E o seu nome é Mulato
Trinta pelegas de mil
Seu dono já enjeitou
Pra se livrar da oferta
Respondeu baixo e falou
– “Amigo não perca tempo
Não insista, por favor
O meu cavalo, Mulato,
A ninguém vendo nem dou ...”.
Mulato está no Rio Grande
Bem pertinho do estrangeiro
Perto da linda São Borja
Lindo rincão brasileiro
Falando bem a verdade
Eu vou dizer a vocês:
Mulato é do “Seu Getúlio”
Tá na Fazenda Santos Reis ...
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7. ” O pobre e o rico” (1961), samba
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Autora: Carolina Maria de Jesus. Intérprete: Idem, com acompanhamento dos Titulares do Ritmo. LP: “Quarto de despejo – Carolina Maria de Jesus Cantando Suas Composições”. Gravadora: RCA Victor.
Carolina Maria de Jesus era uma moradora da extinta Favela do Canindé, nas margens do rio Tietê, na cidade de São Paulo. Catadora de lixo, mãe solteira com três filhos, escrevia seus cadernos havia vários anos. Era a forma que havia encontrado de enfrentar as enormes dificuldades dela e de sua família, como explicou mais tarde: “Quando eu não tinha nada que comer, em vez de xingar, eu escrevia”.
Em 1958, o jornalista Audálio Dantas conheceu-a durante uma reportagem na Favela do Canindé. Impressionado com seu talento literário, ajudou-a a lançar em 1960 o livro “Quarto de despejo”, pela editora Francisco Alves.
Em 1961, o livro de Carolina de Jesus já era um dos mais lidos no país, junto com “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado. Logo foi traduzido em 14 idiomas. A editora Francisco Alves deu-se conta do sucesso e abriu caminho para escritores inéditos de origem popular: Osório Alves de Castro (alfaiate), Moacir Lopes (marinheiro), Francisco Julião (líder das Ligas Camponesas).
Ainda em 1961, Carolina gravou seu único LP pela RCA Victor: "Quarto de despejo: Carolina Maria de Jesus cantando suas composições". Na contracapa do disco, Audálio Dantas contou que, ao ouvir os filhos de Carolina cantarolando sambas, descobriu que a autora era a mãe deles, que sonhava também um dia ser cantora de rádio.
A música de “O pobre e o rico” está em ritmo de balanceio, com versos simples. Usando a "inventiva caroliniana", como descreveu Audálio, ela protestava contra a guerra, onde o pobre sempre ia para o sacrifício. Os arranjos são do maestro Chiquinho de Moraes, o acompanhamento vocal dos Titulares do Ritmo (então no auge do seu sucesso) e a produção artística de Julio Nagib.
(Roberto de Azevedo)
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Ohh, ohh, ohh
(É triste a condição do pobre na terra)
É triste a condição do pobre na terra
Rico quer guerra
Pobre vai na guerra
Rico quer paz
Pobre vive em paz
Rico vai na frente
Pobre vai atrás
Rico vai na frente
Pobre vai atrás
Rico faz guerra, pobre não sabe por que
Pobre vai na guerra tem que morrer
Pobre só pensa no arroz e no feijão
Pobre só pensa no arroz e no feijão
Pobre não envolve nos negócios da nação
Pobre não tem nada com a desorganização
Pobre e rico vence a batalha
Na sua pátria rico ganha medalha
O seu nome percorre o espaço
Pobre não ganha nem uma divisa no braço
Pobre não ganha nem uma divisa no braço
Pobre e rico são feridos
Porque a guerra é uma coisa brutal
Só que o pobre nunca é promovido
Rico chega a Marechal
Rico chega a Marechal
Ohh Ohh Ohh
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8. Pau no burro” (1963), marcha
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Autores: João de Barro (Braguinha) e Radamés Gnattali. Intérprete: Joel de Almeida. Gravadora: Continental. LP: Carnaval de 1964
Esta marchinha do Braguinha e Radamés Gnattali, gravada por Joel de Almeida para o carnaval de 1964, apresenta os principais candidatos às eleições presidenciais marcadas para 1965. De um lado, a mais expressiva liderança conservadora do país, o então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, da UDN. Do outro, no campo progressista, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, do PSD, tentava viabilizar seu retorno ao Palácio do Planalto. Já tinha até slogan na rua – “JK 65”. Pretendia mais uma vez aliar-se com o PTB.
Alziro Zarur, presidente da Legião da Boa Vontade, entidade religiosa que desenvolvia forte ação social, também sonhava com uma candidatura presidencial.
A bandinha não foi muito longe. Menos de dois meses depois do carnaval, veio o golpe militar de abril de 1964. Em julho, o mandato de Castelo Branco, o primeiro general-presidente, foi prorrogado. Quinze meses depois, o regime militar terminou com as eleições diretas para presidente. Nos anos seguintes, cinco generais comandariam o país. O Brasil só voltaria ser governado por um civil em 1985.
Tra-la-lá ...
Vamos ver quem vai ganhá ...
Vamos embora minha gente
Pau no burro!
Vai ter festa no arraiá
Pau no burro!
A bandinha vai na frente
Animando o pessoá
O Lacerda vai no bombo
Juscelino no ganzá
O Zarur pedindo ao santo
Que é pra coisa melhorar
Pau no burro!
Vamos ver quem vai ganhá ...
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9. “Toca o bonde ” (1927), marchinha
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Autor: Freire Junior. Intérprete: Artur Castro. Gravadora: Odeon R 123114
A revista “Toca o bonde”, de Freire Junior, encenada no início de 1927 no Teatro Glória, brinca com a confusão gerada pela decisão da Light de acabar com os “caraduras” ou “taiobas” – bondes que circulavam desde 1884 com a finalidade de transportar bagagens e cargas na cidade do Rio de Janeiro. Boa parte da população humilde também viajava em pé nos “caraduras”, porque a passagem era mais barata (um tostão). Apesar dos protestos do povo pobre, a mudança emplacou.
–Toca o bonde! Deixa disso! Segue ou não segue?
– Olha esse barulho aí! Isso é um desaforo!
– Olha, que eu quero ir pras barcas
– É o novo regulamento da Light
– Regulamento o que? Eu paguei um tostão quero ir pra casa
– O senhor se cuida no Largo do Rocio
– Deixa tudo pro Largo do Rocio
– Toca ou não toca essa ..
Já ninguém ignora
As mudanças de agora
Com os bondes da cidade
A medida recente
Que assustou (?) muita gente
Mas que grande crueldade
Quem só tem um tostão
Fica mesmo na mão
Eis a sua desventura
Essa Light é matreira
Não vai a Cantareira
Um só bonde caradura
Manda quem pode
Não quem tem razão
Não vai às barcas bondes de tostão
Chora, chora, minha gente
Na cama que é lugar quente
– Ora isso! Toca o bonde! Eu quero ir pras barcas!
– Daqui a pouco a Light tem que parar no mangue ... Toca o bonde!
Estas novas medidas
Que já chamam “comidas”
Põe a gente até maluca
São coisinhas da vida
Só vão para a Avenida,
Botafogo ou na Tijuca
Essa Light é sabida
Nunca perde a partida
Ponha-se a gente no relho
O Zé Povo modesto
Foi com todo protesto
Para o Largo do Rocio
Manda quem pode
Não quem tem razão
Não vai às barcas bondes de tostão
Chora, chora, minha gente
Na cama que é lugar quente
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10 “Bate palmas, minha gente” ou “Lá vem o generá” (s.d.)
Letra e música: autores desconhecidos. Intérprete: Banda de Congo de Jacaraípe. Gravação: Guilherme Santos Neves (1951). Letra e música disponíveis em https://acervoguilhermesantosneves.com.br. Letra em EC. Possível música: “Aliança de ouro”. CD: “Congo, o canto da alma”. Gravação independente da Associação das Bandas de Congo da Serra.
A toada “Bate palmas, minha gente!”, cantada pela Banda de Congos de São Pedro de Jacaraípe, localidade à beira-mar no município da Serra (ES), comemora as vitórias das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai: “A campanha está vencida/ Nós já podemos vortá/ Brasileiro venceu Paissandu/ Combateu Mato Grosso, Maetá (Humaitá)”.
A canção foi recolhida pelo folclorista Guilherme Santos Neves em 1951. No artigo “História do Brasil na poesia do povo” (“A Gazeta”, de 14/11/1957), ele publicou os versos abaixo. Infelizmente não se localizou num primeiro momento o registro da música. Por isso, o Volume Zero publicou o verbete do congo apenas nos anexos. Posteriormente, foi encontrada a gravação feita em 1951 por Guilherme Santos Neves
Tudo indica que “Bate palmas, minha gente!” pode ser cantada com a música de “Aliança de ouro”, gravada há poucos anos pela Associação das Bandas de Congo da Serra. Há muitas semelhanças entre os versos dessa toada (1) e os da segunda estrofe da canção sobre a Guerra do Paraguai.
Bate palmas, minha gente,
Que lá vem o generá. (bis)
A campanha ‘stá vencida,
Nós já podemos vortá.
Brasileiro venceu Paissandu,
Combateu Mato Grosso, Maetá.
Bate minha faca de oro (ou Minha aliança de ôro),
Bateu no trilho e quebrô, (bis)
Pra fazê (uma pro Rei)
e outra pro Imperadô.
Pra fazê ôtra de prata
que a de oro quebrô...
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(1) Versos de “Aliança de ouro”: “Minha aliança de ouro/ Caiu no tine e quebrou (bis)/ Eu vou chamar o governo/ Que é o nosso protetor/ Pra comprar uma de prata/ Que a minha de ouro quebrou”.
​11 “Eu vô pro Sul, eu vô”
Letra e música: autores desconhecidos, Intérprete: Banda de Congo de Manguinhos. Gravação de Guilherme Santos Neves (1964)
Letra: EC. Letra e música em https://acervoguilhermesantosneves.com.br
Esta toada, cantada pela Banda de Congo de Manguinhos (ES), foi gravada pelo folclorista Guilherme Santos Neves em 1964. Ela registra as dificuldades e temores vividos pelos brasileiros pobres que passaram a ser recrutados à força para lutarem na Guerra do Paraguai depois de 1866, quando, com o prolongamento do conflito, o fervor patriótico diminuiu em todo o país.
Eu vô pro Sul, eu vô
Ai, o Rei mandô chamá
Eu sô munto pequenino
Eu não posso guerreá
Valei-me Nossa Sinhora
E a Virgem da Conceição
Valei-me os santos todo
E também Sebastião
Meu amigo cante baixo
Que eu farei segunda voz
Na terra que não se canta
Companhêro, viva nós!