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Acervo/blog

Já não há trocos miúdos

Nesta nossa capital,

Os cambistas são os grandes

Nesta época fatal.

Os pobres é que se veem

Em assados e apuros,

Pois desejando miúdos

Hão de pagar grandes juros.

Um gasto de três mil réis

Não é nada, ainda é pouco,

Pra uma nota de dez

Dizem logo: – Não há troco.

Até nas casas de pasto

As listas têm um letreiro,

Dizendo que pra comer

Levem trocado dinheiro.

Já se vê pelas vidraças

Letreiros sobre papéis

Dizendo não haver troco

Mesmo pra cinco mil réis.

De maneira que o pobre

Mesmo tendo algum dinheiro,

Não trazendo os tais miúdos

Passará por caloteiro.

Correm anúncios com letras

De palmo de comprimento

Dizendo que os tais miúdos

Vendem a doze por cento.

E não sabemos até onde

Tudo isso vai parar,

O certo é que o pobre

Há de sofrer e calar.

Houve há pouco uma assembleia

Já se sabe, de graúdos,

Para ver se decidiam

A questão dos tais miúdos.

Ainda agora se espera

Pela tal resolução

Não admira pois tudo

É assim nesta nação.

As cousas estão mudadas

Já se despreza os graúdos,

Pois agora só imperam

Como é sabido, os miúdos.

E quem há de nos valer

Em momento tão sinistro?

Ah! Já sei, corramos todos

Ao palácio do ministro.

Estamos no século das luzes

Já não há que duvidar;

Temos gás por toda a parte

Para nos alumiar

A, E, I, O, U,

Já não custa aprender,

Já se ensina de repente

Sem as letras conhecer.

Temos estradas de ferro

Para mais depressa andar,

Todos hão de correr tanto

Que por fim hão de cansar.

Ba, be, bi, bo, bu, etc

Já com novo calçamento

Vejo as ruas se calçar;

De fino sapato e meia

Já se pode passear.

Ça, ce, ci, ço, çu, etc.

Já se alargam bem as ruas,

A do Carmo é a primeira;

Hoje tudo são progressos

Da famosa ladroeira.

Da, de, di, do, du, etc.

Água suja, cisco e tudo

Já se não deve ajuntar;

É só lançar-se nas ruas

Que as carroças vêm buscar.

Fa, fe, fi, fo, fu, etc.

Já se seguram as vidas,

Já se não deve morrer;

Quem tem sua creoulinha

Não tem medo de a perder.

Ga, gue, gui, go, gu, etc,

Temos água pelos cantos,

Que sempre estão a correr;

E sujo por falta de água

Ninguém mais deve morrer.

Ja, je, ji, jo, ju, etc.

Já temos grandes teatros,

E a empresa quer crescer;

Estamos – num céu aberto,

Isso sim, é que é viver.

La, le, li, Io, lu, etc.

Quando há fogo na cidade

São Francisco dá o aviso;

O Castelo corresponde

Com três tiros do Gabizo.

Ma, me, mi, mo, mu, etc.

Os estrangeiros s'empregam

Nessa nova exploração;

Nada tendo de fortuna

Vem ganhar um dinheirão.

Na, ne, ni, no, nu, etc.

Nacionais de boca aberta

Nada tendo que comer,

Vivem como o boi de canga

Caladinho até morrer.

Pa, pe, pi, po, pu, etc.

Com a carestia dos gêneros,

Como o pobre há de viver?

Com tão pequeno salário

Como honrado pode ser?

Ra, re, ri, ro, ru, etc.

Os poderosos não querem

Co'a pobreza s'importar;

O pobre cheira a defunto

Pois só sabe importunar.

Sa, se, si, so, su, etc.

Eis o que é o país natal

Dos filhos que viu nascer;

Qualquer estrangeiro à toa

Vem aqui enriquecer.

Ta, te, ti, to, tu, etc.

Já temos por felicidade,

Melhor colonização;

Felizmente se acabou

A negra especulação.

Va, ve, vi, vo, vu, etc.

Os transportes são imensos,

Quer por terra, quer por mar;

Até se pode seguro

Já navegar pelo ar.

Xa, xe, xi, xo, xu, etc

Enfim ninguém já duvida

De tamanha perfeição;

Que não ha século como este

De maior ilustração.

Za, ze, zi, zo, zu, etc.

Rio-grandense faz timbre

Pela pátria em dar a vida

Pobre herói, ama o progresso

Não quer a pátria oprimida.

De Caseros na vitória

Foi Osório grão guerreiro,

Suas glórias, sua fama,

São do povo brasileiro

Do rei o trono defende

Fiel à Constituição

Sua espada triunfante

Da liberdade o brasão

De Caseros na vitória ...

Do regresso no cinismo

No embuste dos traidores,

Pisa avante, recebendo

Patrióticos louvores

De Caseros na vitória ...

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