Je suis brésilien, j’ai de l’or (1)
Et j’arrive de Rio de Janeiro.
Plus riche aujourd’hui que naguère,
Paris, je te reviens encore.
Deux fois, je suis venu déjà,
J’avais de l’or dans ma valise
Des diamants à ma chemise,
Combien a duré tout cela ?
Le temps d’avoir deux cent amis,
Et d’aimer quatre ou cinq maîtresses.
Six mois de galantes ivresses,
Et plus rien! ô Paris! Paris!
En six mois, tu m’as tout raflé.
Et puis vers ma jeune Amérique
Tu m’as, pauvre et mélancolique.
Délicatement remballé.
J’ai brûlé de revenir
Et là-bas, sous mon ciel sauvage.
Je me répétais avec rage :
Une autre fortune ou mourir.
Je ne suis pas mort, j’ai gagné
Tant bien que mal des sommes folles.
Et je viens pour que tu me voles
Tout ce que là-bas, j’ai volé.
Tout ce que là-bas, j’ai volé.
Tout ce que là-bas, j’ai volé.
Oh ! Je suis brésilien, j’ai de l’or
Et j’arrive de Rio de Janeiro.
Plus riche aujourd’hui que naguère,
Paris, je te reviens encore.
Je suis brésilien, j’ai de l’or
Et j’arrive de Rio de Janeiro.
Paris, Paris, Paris, Paris,
Je te reviens encore!
Hourrah, hourrah, hourrah.
Je viens de débarquer.
Mettez vos beaux cheveux, cocottes.
Hourrah, hourrah, hourrah.
J’apporte à vos quenottes
Toute une fortune à croquer.
Le pigeon bien plumé, plumé.
Prenez mes dollars, mes banknotes.
Ma montre, mon chapeau, mes bottes.
Mais dites-moi que vous m’aimez.
À moi les jeux et les rires
Et les danses cavalières.
À moi les nuits de Paris,
Qu’on m’amène au bal d’Asnières.
Sachez-le bien seulement,
Car c’est là ma nature.
J’en prendrai pour mon argent,
Je vous le jure!
J’en prendrai pour mon argent,
J’en prendrai pour mon argent.
Venez, venez, venez, venez!
Letra: Faustino Xavier de Novaes. Música: Belmiro Soler. Intérprete: João Nabuco (piano e canto). Gravação independente.
Meu pai tenha paciência
Mande sangrar a algibeira
Preciso de uma excelência
Quero ser comendadeira
Deus não quis fazer somente
Do mundo os homens senhores
Nós apenas somos gente
E eles são comendadores
Isto, papai, não tem jeito!
Não vai bem o mundo assim
Tanta falta de respeito
É mister que tenha fim (bis)
Tem papai quatro comendas
E vejo-o sempre em contendas
Porque um vizinho tem seis
E a sua filha, coitada,
Não tem comendas nem nada
Por causa de trinta réis (bis)
Eu já sei que o papai trata
De casar-me, e é bem preciso;
Mas assim, tão lisa e chata,
Só marido, só marido chato e liso.
Eu tenho nobreza em saias,
E nas calças tenho renda;
Faltam no dote as alfaias,
E é rica alfaia a comenda.
Sou cantora de alta monta
No piano sem rival
Canto Orfeu de ponta a ponta
Toco o Hino Nacional (bis)
Sem picar as mãos na agulha
Na educação faço bulha
Tudo o que é belo aprendi
Estudando as línguas vivas
Domino-as como cativas
Digo já yes e oui (bis)
Comendas não se consomem,
Riquezas botam-se fora.
E comendador e homem
São, são sinônimos agora,
De Deus a lei nos ensina
Dos dois sexos a tendência,
Comenda só masculina
Não pode ter descendência.
Se um rasgo de bom juízo
Comenda macha nos deu
Comenda fêmea é preciso,
Que propaga o que nasceu.
Manda assim a natureza:
O marquês tem a marquesa,
Tem baronesa o barão.
Seja nobre a terra inteira:
Quero ser comendadeira,
Da Ordem da Criação.
Letra: Adeodato Sócrates de Mello. Música: J. S. Arvellos (“Eu gosto da cor morena”). Intérprete: João Nabuco (piano e canto). Gravação independente.
Anda o povo em multidão,
Que confusão!
Lastimando o duro fado,
Sem poder comprar mais nada,
Ai! Caçoada,
Ter dinheiro desprezado.
Quer seus doces bons comer
E beber,
O deus Baco queridinho,
Há de só os adorar,
Sem tocar,
Pois não há mais trocozinho.
Quanto é triste nesta vida
Esta lida,
De confusa andar as leis
Sem saberem sustentar,
Bem mandar,
Haver troco aos pontapés.
Se lá querem aceitar,
Destrocar,
Nota grande aos moçozinhos
Bem janotas e trajados,
Afamados
Do Tesouro empregadinhos.
Estes são bem garantidos,
São servidos
De miúdos a fartar.
Só não tem os pobrezinhos,
Coitadinhos,
Quem há de a nota cambiar!
Tudo isto a quem devemos,
Nem sabemos,
Se à Justiça, se ao Poder;
Queira o povo lastimar,
Esperar,
Mundo novo aparecer.