Desejo, prezado amigo,
Com grande satisfação
De ter o vosso votinho
Na próxima eleição
Não posso, meu coroné,
O voto de graça eu não dou
É breve lição do meu pai
Conselho do meu avô
Eu prometo meu amigo
De lhe dar colocação
Se vancê votar comigo
Ao menos nesta eleição
Tenha a santa paciência,
Meu ladino coroné,
Meu voto eu dou de espontâneo
A quem quer que me faça o pé
Eu vos dou terno de roupa
Dou cavalo, dou terneiro
Em troca do vosso voto
Dou até mesmo dinheiro
Já tenho calo na sola
Meu ladino coroné,
Hoje você me dá tudo
Amanhã me mete o pé
Eu vos quero muito bem
Meu caro eleitor amigo
Não seja tão emperrado
Venha cá votar comigo
Vai armar pra quem quiser,
Coroné, sua arapuca
Eu cá sou macaco velho
Não meto a mão na cumbuca.
Foram-se os tempos em que as honras tive
D’alto fidalgo, de marquês até,
Era meu cetro meu cacete destro,
Meu trono as caras onde eu punha o pé
Quantas vitórias não contei nos dias
Do meu reinado, que já lá se vão
Cartas eu dava, bajulado eu era
Tinha excelências numa eleição
Fugir fazia de meus pulos cueras
Dez mil urbanos sempre fui de lei
Na cabeçada esbodeguei mil caras
Numa rasteira muitos tombos dei
Quando eu pulava qual cabrito novo
Gingando à frente da procissão
Alas abria num volteio doido
Rodopiava mais do que um pião
Num passe breve da navalha minha
Pelo gostinho de estreá-la só
Riscava um traço de união com sangue
Num gordo ventre, sem pesar nem dó
Tive tais honras que na própria igreja
Tirei sem mágoas muita vida ruim
A minha faca não fazia graças
E Deus parecia recear de mim
Não tinha pernas no sambar sestroso
Quando a crioula aveludando o olhar
Se desfolhava em contrações dengosas
E vinha o peito de paixão magoar
Mas ai daquele que a tentar quisesse
Num belo samba sempre fui tutú
Fazia o cujo dar no chão dois beijos
Sacava a bicha, sem mais nada, fú
Mas se a crioula desse corda ao cabra
Pagava caro por querer trair
Pois o meu ferro, sempre alerta e pronto,
Nunca fez graças pra ninguém sorrir
Eu fui turuna e fui moleque cuera
Destabocado, mas aos meus leal
No pé, no ferro, no cacete destro
Na capangagem nunca vi rival
Deixo o meu nome às tradições da pátria
Eu fui nagoa destemido, olé
A minha gente nem do rei temia
Quando eu nos rolos espalhava o pé
Hoje estou velho, esbangalhado e pobre
Mas a faceira trago sempre cá
Foram-se os tempos de prazer e glórias
Mas muito sangue derramei eu já!
Meu nome lego às tradições da pátria
Altos poderes com a cabeça eu dei
De muita besta fiz um deputado
Da monarquia fui segundo rei
Arrebatou-me a majestade um dia
Um chefe ingrato – Sampaio Ferraz.
Fui pra Fernando de Noronha logo
Que um raio o parta e me deixe em paz.
Rato, rato, rato
Assim gritavam os compradores ambulantes
Rato, rato, rato,
Para vender na academia aos estudantes
Rato, rato, rato
Dá bastante amolação
Quando passam os garotos, todos rotos
A comprar ratos a tostão
Quem apanha ratos?
Aqui estou eu para comprar, para comprar
Ratos baratos
São necessários para estudar, para estudar
Já que vens saber
Que este viver é minha sina
Rato, rato, rato, rato
Só pra fazer vacina
Rato, rato, rato
Só se vê aqui no Rio de Janeiro
Rato, rato, rato
Quem os tiver já não passa sem dinheiro
Rato, rato, rato
É a nossa salvação
Pra esses nossos malandrotes não passarem
Todo dia sem o pão
Tem vendedor que compra ratos
Nunca tive um casamento
Nem procuro trabalhar
Ratos quando estou em casa estou prendendo
Ratos que no outro dia estou vendendo
Com anunciante conhecido
Nem por isso meu negócio assim produz
Tem que trazê-lo na memória,
O belo tempo de glória, dr. Oswaldo Cruz
Rato, rato, rato
Assim gritavam os compradores ambulantes
Rato, rato, rato,
Para vender na academia aos estudantes
Rato, rato, rato
Dá bastante amolação
Quando passam os garotos, todos rotos
A comprar ratos a tostão.
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(1) “Rato, rato, rato / Qual o motivo porque roeste o meu baú / Rato, rato, rato / Audacioso e malfazejo gabiru / Rato, rato, rato / Eu só desejo ver o dia afinal / Que a ratoeira te persiga e consiga / Satisfazer meu ideal / Quem te formou? / Foi o diabo, não foi outro, podes crer / Quem te gerou? / Foi uma sogra pouco antes de morrer / Quem te criou? / Foi a vingança, digo eu / Rato, rato, rato / Emissário do judeu / Quando a ratoeira te pegar / Monstro covarde não te ponhas a gritar, por favor / Rato velho descarado roedor / Rato velho como tu faz horror / Nada valerá teu qui-qui / Morrerás e não terás quem chore por ti / Vou provar-te que sou mau / Meu tostão é garantido / Não te solto nem a pau.”