Autores: Gilberto Gil e João Augusto. Intérprete: Gilberto Gil. Gravadora: RCA Victor. Compacto simples.
Meu povo, preste atenção
Na roda que eu te fiz
Quero mostrar a quem vem
Aquilo que o povo diz
Posso falar, pois eu sei
Eu tiro os outros por mim
Quando almoço, não janto
E quando canto é assim
Agora vou divertir
Agora vou começar
Quero ver quem vai sair
Quero ver quem vai ficar
Não é obrigado a me ouvir
Quem não quiser me escutar
Quem tem dinheiro no mundo
Quanto mais tem, quer ganhar
E a gente que não tem nada
Fica pior do que está
Seu moço, tenha vergonha
Acabe a descaração
Deixe o dinheiro do pobre
E roube outro ladrão
Agora vou divertir
Agora vou prosseguir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai sair
Não é obrigado a escutar
Quem não quiser me ouvir
Se morre o rico e o pobre
Enterre o rico e eu
Quero ver quem que separa
O pó do rico do meu
Se lá embaixo há igualdade
Aqui em cima há de haver
Quem quer ser mais do que é
Um dia há de sofrer
Agora vou divertir
Agora vou prosseguir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai sair
Não é obrigado a escutar
Quem não quiser me ouvir
Seu moço, tenha cuidado
Com sua exploração
Se não lhe dou de presente
A sua cova no chão
Quero ver quem vai dizer
Quero ver quem vai mentir
Quero ver quem vai negar
Aquilo que eu disse aqui
Agora vou divertir
Agora vou terminar
Quero ver quem vai sair
Quero ver quem vai ficar
Não é obrigado a me ouvir
Quem não quiser escutar
Agora vou terminar
Agora vou discorrer
Quem sabe tudo e diz logo
Fica sem nada a dizer
Quero ver quem vai voltar
Quero ver quem vai fugir
Quero ver quem vai ficar
Quero ver quem vai trair
Por isso eu fecho essa roda
A roda que eu te fiz
A roda que é do povo
Onde se diz o que diz
Zé Qualquer tava sem samba,
Sem dinheiro Sem Maria sequer Sem qualquer paradeiro Quando encontrou um samba Inútil e derradeiro Numa inútil e derradeira Velha nota de um cruzeiro
Seu Marquês, Seu Almirante Do semblante
Meio contrariado Que fazes parado No meio dessa nota de um cruzeiro rasgado Seu Marquês, Seu Almirante Sei que antigamente
Era bem diferente Desculpe a liberdade E o samba sem maldade Deste Zé Qualquer Perdão, Marquês de Tamandaré Perdão, Marquês de Tamandaré
Pois é, Tamandaré, A maré não tá boa Vai virar a canoa E este mar não dá pé,
Tamandaré Cadê as batalhas Cadê as medalhas Cadê a nobreza Cadê a marquesa, cadê Não diga que o vento levou O teu amor até
Pois é, Tamandaré A maré não tá boa Vai virar a canoa E este mar não dá pé,
Tamandaré Meu marquês de papel Cadê teu troféu Cadê teu valor Meu caro almirante O tempo inconstante
Roubou
Zé Qualquer tornou-se amigo do marquês Solidário na dor Que eu contei a vocês Menos que queira ou mais que faça É o fim do samba, é o fim da raça Zé Qualquer tá caducando Desvalorizando Com o tempo que passa, passando Virando fumaça, virando Caindo em desgraça, caindo Sumindo, saindo da praça Passando, sumindo Saindo da praça Passando, sumindo.
Autores: Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto. Intérprete: Chico Buarque. Gravadora: RGE. Compacto simples (1967).
Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
Estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca.