Autores: José Cândido e João do Vale. Intérprete: Maria Bethânia. Gravadora: RCA Victor. Compacto simples.
Carcará,
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará,
Quando vê roça queimada
Sai voando e cantando
Carcará,
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Quando o chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim não passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará pega, mata e come
Carcará num vai morrer de fome
Carcará, mais coragem do que home
Carcará pega, mata e come.
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa no imbigo inté mata
Carcará pega, mata e come
Carcará num vai morrer de fome
Carcará, mais coragem do que home
Carcará pega, mata e come
(fala)
Em 1950, mais de dois milhões de nordestinos viviam fora de seus estados natais. 10% da população do Ceará emigrou. 13% do Piauí. 15% da Bahia. 17% de Alagoas.
Carcará pega, mata e come
Carcará num vai morrer de fome
Carcará, mais coragem do que home
Carcará pega, mata e come
Autores: João do Vale e J. B. de Aquino. Intérprete: Nara Leão. Gravadora: Phillips. LP: “Opinião de Nara”.
Mas plantar pra dividir
Não faço mais isso, não.
Eu sou um pobre caboclo,
Ganho a vida na enxada.
O que eu colho é dividido
Com quem não plantou nada.
Se assim continuar
Vou deixar o meu sertão,
Mesmo os olhos cheios d'água
E com dor no coração.
Vou pro Rio carregar massa
Pros pedreiros em construção.
Deus até está ajudando:
Está chovendo no sertão
Mas plantar pra dividir
Faço mais isso não.
Quer ver eu bater enxada no chão
Com força, coragem, com satisfação?
É só me dar terra pra ver como é
Eu planto feijão, arroz e café
Vai ser bom pra mim e bom pró doutor.
Eu mando feijão, ele manda trator
Vocês vai ver o que é produção
Modéstia á parte, eu bato no peito:
Eu sou bom lavrador
Mas plantar pra dividir,
Não faço mais isso não.
Sapato de pobre é tamanco A vida não tem solução Morada de rico é palácio E casa de pobre é barracão Quem é pobre sempre sofre Vive sempre a trabalhar Mas eu sofro só de dia De noite eu vivo pra sambar A mulher do branco é esposa E a esposa do preto é mulher Mas minha mulher é só minha A do branco eu não sei se só dele é O preto vive atormentado E nem tem tempo pra rezar Mas o preto é mais que branco Pra mãe d'água Iemanjá A terra do dono é só dele Ali ninguém pode mandar Mas se eu não pegar na enxada Não tem ninguém para plantar Eu semeio e trato o milho E a colheita é do senhor Mas o dia da igualdade Tá chegando, seu doutor.