Imaginem uma eleição em que ninguém fosse eleito Já estou vendo a cara do futuro prefeito Vamos lá chapa, seja franco Use o poder do seu voto, vote em branco
Voto em branco!
Seja alguém, vote em ninguém Seja alguém, vote em ninguém Seja alguém, vote em ninguém
Esquerda, direita, em cima, em baixo Você assim e eu assado Quando vamos parar de tomar lado? Quando vamos parar de ser enganados?
Enganados!
Com óculos escuros e medalhas pelo peito O governante da nação se julga no direito De tirar de quem trabalha os meios de produção Tirar de quem pensa a liberdade de expressão
Ele oprime, ele esmaga, ele usa sua força E no fim ainda sorri nas telas de televisão Sorri nas telas de televisão
Com um fuzil na mão e na cabeça um ideal De derramar o próprio sangue pela honra nacional Soldado dominado bate no trabalhador Bate em seus compatriotas, seus amigos, seus irmãos Bate em todo movimento operário da nação
Em seu ouvido ecoa um grito Solidariedade, não!
Autores: Zé Ramalho e Capinan. Intérprete: Zé Ramalho, com declamação de Fagner. Gravadora: CBS. LP: Orquídia negra.
Sonhei com Pablo Neruda Em plena praia do futuro
Escrevendo num imenso muro La palavra libertad Com poemas de Vinicius En las manos eram hermanos Recitava Eluard E gente em plena tarde Poetas de todo mundo Escrevendo por toda parte La palavra libertad Voava com Castro Alves Gregório, também Gonçalves Dias e noites latinas Cabral dançando frevo E um cego de improviso No imenso salão da claridade Relampejou num sorriso La palavra libertad Toda a família Andrade Zé Limeira, Ferreira e eu Pessoa e Garcia Lorca Queimando o pau de uma forca Hasteando Manoel Bandeira La palavra libertad Maracatu de Dona Santa Batutas de S. José Patativa do Assaré E também Dodô e Osmar Vi Dirceu atrás da grade Abra, Marília, sou eu Sonhando num céu de fogo Libertas quae sera tamen E um cheiro de tangerina Descascava Jorge de Lima As invenções de Orfeu Rezava Murilo Mendes Gritava o povo no vale No muro grande concreto Gás néon sobre o deserto A inscrição Liber Tarde Gritava o pé de chinelo Esquentava o bóia-fria Soletrava um pau-de-arara Entre as coxas de Maria E um prato de feijão Decifrava o analfabeto A escrita de Mallarmé Em pleno golpe da sorte A morte fugiu pra Marte A vida disse: Aqui, Jazz Swing por toda parte Xote, xaxado e baião O repentista azulão Anunciou no sertão A palavra liberdade Una canción desesperada Duas chilenas amaban Se fueron com tres donzelas Cuatro muchachas morenas A las cinco en punto de la tarde Las seis grandes bascas En siete estrellas tornaron Ocho novias brasileñas Nueve puñales, diez varandas Sangre no mural de la tarde La palabra liberdade
Liberdade