Antigamente a velha Chica Vendia cola e gengibre E lá pela tarde Ela lavava a roupa do patrão importante E nós os miúdos Lá da escola, perguntávamos A vovó Chica Qual era a razão daquela pobreza Daquele nosso sofrimento
Xê, menino, não fala política Não fala política, não fala política Mas a velha Chica, embrulhada nos pensamentos Ela sabia, mas não dizia A razão daquele sofrimento Xê, menino, não fala política Não fala política, não fala política E o tempo passou
E a velha Chica só mais velha ficou Ela somente fez uma cubata De teto de zinco De teto de zinco Xê, menino, não fala política Não fala política, não fala política Mas quem vê agora O rosto daquela senhora Daquela senhora Já não vê as rugas do sofrimento Do sofrimento Ela agora só diz Xê, menino, posso morrer Posso morrer Xê, menino, posso morrer Já vi Angola
Independente
Se veio ao mundo
Foi Deus quem quis
O timoneiro
Que está com o leme do meu país
E pra que siga
Rumo certo o meu Brasil
Deus que lhe dê muitos 19 de abril.
Autores: Gilberto Gil e Chico Buarque. Intérprete: Gil. Gravação especial feita pelos estudantes da USP (1973).
Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga? Tragar a dor, engolir a labuta? Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa? Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira tanta força bruta
Pai, afasta de mim este cálice ...
Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Deixa eu lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa
Pai, afasta de mim este cálice ...
De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade
Pai, afasta de mim este cálice ...
Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça